2.9.08

Noite


Nas correntes frias onde morre a luz dos astros,
e entre os grilos rápidos dos condenados, encontrei o reflexo
de amor antigo. Deixou-me um gosto de sangue nos dentes,
os lábios gretados num roxo de ânsia. Rasgou-se a alma
num seco crepitar de papel. Estava imóvel, encostado aos ventos
e às marés, e o seu corpo exalava o cheiro húmido dos litorais.
Falava
Baixo, num segredo de sombra, num horizonte de bocas
sem alegria,
arrastando a voz num sussurro de litania. Fiquei de longe,
a olhar, enquanto o sol nascia.


Nuno Júdice "Obra Poética"

No comments: