28.1.05

" Há um princípio do mal que governa o mundo,repetia -me sempre.É ele que,como um verme,devora os corações e os olhares,tornando-os secos,vazios,opacos.As poucas pessoas que desejam o bem estão destinadas a sucumbir.
Não há salvação sobre a terra e talvez o céu também esteja vazio,dizia-me eu.
Não é talvez a contemplação do mal um dos maiores impulsos para o ateísmo?????Se Deus é amor, onde está o amor no mundo, que é o seu reino???Se Deus é bom emisereordioso, por que permite esta louca devastação?????
Muitas vezes as pessoas param aqui,é-lhes suficiente saber que Deus não existe ou que é demasiado injusto para ser tomado em consideração. "

" Muitas vezes pensa-se no perdão como algo que se pode conceder a quem nos feriu de forma grave- e esta é seguramente uma das formas mais altas.
Ou então considera-se o perdão como uma obrigação de indulgência para com a maldade, uma espécie de tirania melosa imposta àqueles que se declaram cristãos em virtude do "oferece a outra face".
Mas isto,mais do que o perdão eu chamaria «perdonismo»,ou seja, a paródia detiorada de um sentimento mais rico e mais complexo.
Raramente pensamos no perdão como um sentimento virado para nós mesmos."

" O que é a reconciliação?????
A reconciliação é o percurso do reconhecimento da nossa fragilidade e a aceitação do nosso passado, seja ele qual for.
É este o percurso que torna o homem realmente livre e realmente capaz de amor.
O homem que perdoa,o homem reconciliado, é, antes de mais, o homem que não tem defesas, que não tem barreiras, que não está num ponto em que a verdade tem só uma cor.
O homem reconciliado consigo mesmo- e logo com o seu projecto - sabe que a verdade não é uma cor, mas sim uma luz.Uma luz que pousa em todos os lugares, iluminando, dando a cada coisa uma respiração mais ampla."

" A liberdade tornou-se um dos valores fundamentais, mas nesta liberdade - em si justa - terminou por se perder o sentido de orientação.Libertar-se de algo significa sempre tornar- se prisioneiro de outra coisa.
E da mesma maneira nós, em vez de nos tornarmos intimamente e profundamente livres, tornamo-nos escravos da liberdade.Progressivamente fomo- nos libertando de tudo.Libertámo- nos dos tabus e dos limites, das dúvidas e das perturbações, das regras morais.Libertámo -nos, sobretudo da existência de Deus, com a certeza de sermos agora os únicos donos do nosso destino.
No entanto, a história do nosso tempo diz- nos que não é assim.Diz- nos que o céu vazio não foi ocupado pela grandeza do homem, mas sim pela loucura, pelo seu orgulho, pela sua sede de sangue.
Esta liberdade conquistada através da libertação de tudo o que era considerado um peso demonstra agoara toda a sua fraqueza a sua gratuidade.Não levou a lado nenhum, senão a um lugar aonde as pessoas perderam o respeito por si próprias, pelos outros seres humanos e por tudo aquilo que as rodeia.
O homem que vemos hoje é pobre e fundamentalmente perdido, um homem frágil que vive suspenso entre a incapacidade de enfrentar o presente e a ansiedade do futuro.
É um homem afectado por uma forma grave de infantilidade, em que a dimensão infantil não é a de plenitude, mas a sim a da vaidade e egoísmo. "

Susanna Tamaro in "regresso a casa"

Tu

Desilusão vazia dentro do meu ser
Ãnsia de sonho impossível desvanecida
Explicação absurda de algo inexistente
Pensamento de uma realidade sonhada
Imaginação de um Tu longinquo....
Perda de vidas num mundo complexo
Solidão presente em mim
Tristeza presente em mim
Um Tu longinquo presente em mim..
Onde estás ????
Procuro-te.......

voz do silencio

" Coisas que não passam.Há quem diga que dentro da cabeça,eu não sei onde.Coisas que de vez em quando voltam e por isso, só por isso , se sabe que não passam.
Coisas que nos agradam por detrás da nuca,frente a um espelho,sem qualquer propósito, e só nos deixam sem querermos.
Pequenos rogos,doces chamamentos,partidos muitas,asperezas,ciúmes,vícios,abraços ternos,despedidas,riva,.tédios,pequenos espantos,sobressaltos.
Coisas que não passam,há quem diga que dentro da cabeça.Eu não sei onde. "
" Breve e triste é a nossa vida.O remédio não está no fim do homem,nem se conhece ninguem que tenha regressado dos infernos.Nascemos por acaso e, depois de mortos,seremos como se nunca tivéssemos sido:fumo é o sopro da nossa respiração e a palavra é uma centelha no palpitar do nosso coração, e apagada a centelha o corpo tornar- se- á cinza e o espírito será disperso como o ar leve "

" A morte nunca é aquilo que dá sentido à vida.É pelo contrário, o que lhe retira significado.Esta podia ser de certa forma a epígrafe do nosso século.
Negar o mistério da origem é a principal característica daquele que não acredita.O ateísmo não é só a negação do sentido de Deus,mas é tanbém,no fundo,a negação do homem,porque ao recusar -lhe a sua parte de mistério faz dele uma sombra sem profundidade,uma forma extremamente pobre e limitada.E talvez seja esta extrema limitação a exaltar o orgulho e a presunção.Conhece-se uma fatia irrisória da realidade-ou do ser-e confunde-se essa fatia com a totalidade. "


" Não há espaço,nestas passagens,para o mistério,não há espaço para a surpresa.E,no entanto,basta observar um dia de uma vida qualquer com um olhar e uma mente livre para nos apercebermos de que tudo é surpresa e que,muitas vezes,o imprivisto subverte todos os planos."

Susanna Tamaro in "regresso a casa"

14.1.05

Vilancete

No instante da partida
há sempre uma demora
não do tempo-da vida.

Na verdade não chora
quem sabe o espaço e o casto
abraço dessa hora:
instante só mas vasto
de verdade perdida,
tenuemente se cora
o escasso perfil gasto:
não do tempo-da vida

Jorge de sena "Amor"

"Assim a vida passa vagarosa
O presente,a aspirar sempre ao futuro..
O futuro,uma sombra mentirosa"

Antero de quental

dedicatória

Dedicado a todos os que cruzaram o meu caminho.
A todos aqueles que levaram um pouco de mim,aos que deixaram um pouco de si,e aqueles que não partiram mas ficaram.
Obrigada pelo vosso sorriso,a vossa simpatia,compreensão....
A todos os que partiram só lhes digo que continuam no meu pensamento.
A todos os que deixaram um pouco de si eu digo que foi a coisa mais bonita que alguma vez fizeram.
Aos que ainda cá estão obrigada pelo vosso apoio nos momentos mais difíceis!!! São a razão de ainda existir,só vos peço uma palavra de carinho,um gesto de amizade,um olhar de amor e uma vida de paz!!
Vocês são tudo para mim.ADORO-VOS MEUS AMIGOS

Num universo cujo tamanho está para além da imaginação humana,onde o nosso mundo flutua como um grão de poeira no vazio da noite,os homens cresceram inconcebivelmente sós.
Sondamos a escala do tempo e os mecanismos da própria vida à procura de prodígios e sinais do invisível.
Como mamíferos pensantes do planeta-talvez os únicos animais pensantes em todo o universo-o fardo da consciência tornou-se-nos pesado.
Observamos as estrelas,mas os sinais são incertos.
Descobrimos ossos do passado e procuramos as nossas origens.
Há ali um caminho,mas parece transviar-se.
Os caprichos da estrada podem,contudo,ter um significado.
É assim que nos torturamos.

Loren Eiseley "A imensa jornada"
Não,não o faço por tristeza
nem superstição

Cada noite
assinalo na parede do tempo.

Presidiário,
que não deseja o último dia

Apenas por te ouvir e amar,
pura volúptia ,gratidão de ser.

António Osório "O lugar do amor"

7.1.05

pensamento

Há alturas em que o silêncio fala mais alto
hoje é um deles

Sísifo

Recomeça.....
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não desanimes.
De nenhum fruto queiras só metade

E ,nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordando,
O logro da aventura.
És Homem, não te esqueça!!!
Só é tua a loucura
Onde,com lucidez,te reconheças

Miguel Torga " Diário"

Encontrar a paz no nosso coração..
é regressar à inocência e ao amor que vive dentro de nós....

3.1.05

Narciso

Ouço dizer que as águas cantam o amor, correndo, e que nas suas margens há arbustos debruçando tristezas profundas.
Mas nem as águas nem o vento me falam de mim ;eu, que solitário me debruço numa ânsia de tocar-me, e o resto perco no abismo da superfície; que o segredo que oculto em mim persigo, num silêncio me evocando entre os alheios rumores da vida ; e que o tempo esqueço absorto da minha própria existência

nuno júdice in "lira do líquen"