22.9.08

A.M.C

No céu, se existe um céu para quem chora,
Céu, para as mágoas de quem sofre tanto…
Se é lá o amor, o foco, puro e santo,
Chama que brilha, mas que não devora

No céu, se uma alma nesse espaço mora,
Que a prece escuta e enxuga o nosso pranto…
Se há pai, que estenda sobre nós o manto
Do amor piedoso… que eu não sinto agora…

No céu, ó Virgem! Findarão meus males
Hei-de lá renascer, eu que pareço
Aqui só ter nascido para dores

Ali, ó lírio dos celestes vales!
Tendo seu fim, terão o seu começo,
Para não mais findar, nossos amores

Antero de Quental "Sonetos"