6.3.07

O inconsciente

O espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ansioso espreito e sigo,

É um espectro mudo, grave, antigo
Que parece a conversas mal disposto...
Ante esse vulto, ascélico e composto
Mil vezes abro a boca... e nada digo

Só uma vez ousei interrogá-lo;
Quem és (lhe perguntei com grande abalo)
Fantasma a quem odeio e a quem amo?

-" Teus irmãos(respondeu) os humanos,
Chamam-me Deus há mais de mil anos...
Mas eu por mim não sei como me chamo..."

Antero De Quental

3 comments:

Fragmentos Repartidos said...

Não conhecia este texto. Gostei de o ler pois de certa forma identifico-me com o que aqui é dito.

Dei com o blog à sorte...escrevendo endereços que me pareciam interessantes.

mitro said...

Tens bom gosto...

José Leite said...

Antero é sempre o Antero.

Bonita opção esta. Gostei.