15.10.06

Falar alto e sozinho.Ir pela rua,sozinho,falando com ninguém e com todos.Fazer parte do munod e estar só no mundo e chamar,em vão,pelo mundo.
Dizer-lhe as palavras precisas.Certas,esclarecedoras.
Únicas.Assim o homem que rompe a direito,concentrado e decisivo.~
-Não e não!
Não o quê?Não porquê? Será que os outros não sabem?
-ah!-reprova-se aquele velho.se eu voltasse atrás!...-e logo se encoraja-É sempre tempo para se fazer o que se deve!
Que foi que ele não fez?
-Fomos nós?-inquieta-se um outro que o ouviu-Fomos nós e ele que ainda o não fizemos?
Há também quem sorria dos que passam falando sozinhos.Maneira de escapar-se,de fugir aos problemas.
Sorrir e esquecer o que se ouve na rua é estar dormindo.
Não por muito tempo.um breve sono apenas.Os pesadelos do dia-a-dia crescem,sobem,afogam.
-Hão-de acabar por ouvir!-exclama aquele homem à beira do passeio.
Até os que vão calados falam.Pela forma de andar,pelos gestos,ouvem-se-lhes as palavras.E lá vão,entaipados,solitários na multidão.

António da Fonseca " Tempo de solidão"

3 comments:

Anonymous said...

gostei..

Amaral said...

"Tempo de solidão" que chega a todos, de mansinho ou sofregamente...
"Até os que vão calados falam" - quem ousa duvidar de frase tão curta?...

Anonymous said...

bom fim de semanaaaaaa**********