19.4.06

Já há algum tempo que George deixou de trazer-lhe
flores ou outros presentes.Actualmente,não há nada de
significativo que possa trazer do exterior para este quart;
nem mesmo ele próprio.Tudo o que lhe interessa agora
está aqui neste quarto,onde está absorvida no processo da
morte.Contudo, a sua preocupação não parece ego´sita;
não exclui George ou qualquer outra pessoa que se dê ao
trabalho de compartilhá-la.Esta preocupação é com a
morte, etodos nós podemos partilhá-la,em quaçquer altura,
em qualquer idade,doentes ou sãos.
George senta-se agora a seu lado e pega-lhe na mão.
Se o tivesse feito à dois dois meses atrás,ter-se-ia tratado de
um gesto terrivelmente falso./(Uma das suas recordações
mais amargas e vergonhosas tem a ver com uma vez em
que a beijou na face-foi uma agressão,um acto de
masochismo?Oh,raios partam todas estas palavras!-
exactamente depois de descobrir que ela fora para a cama
com Jim.Jim estava presente quando isso aconteceu.
Quando George se encaminhou para ela para a beijar,
Jim fez um ara espantado e assustado,como se receasse que
George fosse mordê-la como uma cobra.)Mas agora não
está a ser falso ao pegar na mão de Doris,nem mesmo
a cometer um acto de compaixão.É necessário-desco-
brui-o em visitas anteriores-a fim de estabelecer um
contacto mesmo que parcial.E ,ao pegar-lhe na mão,sen-
te-se embaraçado coma sua doença,pois esse gestes signi-
fica estamos no mesmo barco,em breve seguir-te-ei.Deste
modo estará desculpado pelo facto de ter de fazer aquelas
perguntas horríveis que se fazem aos doentes.Como está?
Como estão a correr as coisas?Como se sente?
Doris esboça um sorriso débil.Será poque lhe agrada
Que ele tenha vindo?

ISHERWOOD " Um Homem no singular"

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