preocupam-me as coisas do passado.
Escrevo como se o poema fosse uma realidade, ou dele nascessem as folhas da vida, com o verde esplêndido de uma súbita primavera.
Sobreponho ao mundo a linguagem; tiro palavras de dentro do que penso e do que faço, como se elas pudessem viver aí, peixes verbais no aquário do ser.É verdade que as palavras não nascem da terra, nem trazem consigo o peso da matéria; quando muito, descem ao nível dos sentimentos, bebem o mesmo sangue com que se faz viver as emoções, e servem de alimento a outros que as lêem como se nelas, estivesse toda a verdade do mundo.
Vejo-as cairem-me das mãos como areia; tento apanhar esses restos de tempo, de vida que se perdeu numa esquina de quem fomos; e eu vou atrás deles, entrando nesse charco de fundos movediços a que se dá o nome de memória.
Será isso a poesia??? É então que surges: o teu corpo, que se confunde com o das palvras que te descrevem, hesita numa das entradas do verso.Puxo-te para o átrio da estrofe; digo o teu nome com a voz baixa do medo; e apenas ouço o vento que empurra portas e janelas, sílabas e frases, por entre as imagens inúteis que me separam de ti.
Nuno Júdice in "Lira do líquen"
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5 comments:
Querida Voz do silêncio
Obrigado pela visita.
Encontrei aqui boa poesia.
Um beijo
Daniel
gostei bastante do que li!
um grande beijo para ti!
muito bonito, adorei o que li
beijo
gostei bastante do que li!
um grande beijo para ti!
Obrigado por partilhares estes textos
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