" Há um princípio do mal que governa o mundo,repetia -me sempre.É ele que,como um verme,devora os corações e os olhares,tornando-os secos,vazios,opacos.As poucas pessoas que desejam o bem estão destinadas a sucumbir.
Não há salvação sobre a terra e talvez o céu também esteja vazio,dizia-me eu.
Não é talvez a contemplação do mal um dos maiores impulsos para o ateísmo?????Se Deus é amor, onde está o amor no mundo, que é o seu reino???Se Deus é bom emisereordioso, por que permite esta louca devastação?????
Muitas vezes as pessoas param aqui,é-lhes suficiente saber que Deus não existe ou que é demasiado injusto para ser tomado em consideração. "
" Muitas vezes pensa-se no perdão como algo que se pode conceder a quem nos feriu de forma grave- e esta é seguramente uma das formas mais altas.
Ou então considera-se o perdão como uma obrigação de indulgência para com a maldade, uma espécie de tirania melosa imposta àqueles que se declaram cristãos em virtude do "oferece a outra face".
Mas isto,mais do que o perdão eu chamaria «perdonismo»,ou seja, a paródia detiorada de um sentimento mais rico e mais complexo.
Raramente pensamos no perdão como um sentimento virado para nós mesmos."
" O que é a reconciliação?????
A reconciliação é o percurso do reconhecimento da nossa fragilidade e a aceitação do nosso passado, seja ele qual for.
É este o percurso que torna o homem realmente livre e realmente capaz de amor.
O homem que perdoa,o homem reconciliado, é, antes de mais, o homem que não tem defesas, que não tem barreiras, que não está num ponto em que a verdade tem só uma cor.
O homem reconciliado consigo mesmo- e logo com o seu projecto - sabe que a verdade não é uma cor, mas sim uma luz.Uma luz que pousa em todos os lugares, iluminando, dando a cada coisa uma respiração mais ampla."
" A liberdade tornou-se um dos valores fundamentais, mas nesta liberdade - em si justa - terminou por se perder o sentido de orientação.Libertar-se de algo significa sempre tornar- se prisioneiro de outra coisa.
E da mesma maneira nós, em vez de nos tornarmos intimamente e profundamente livres, tornamo-nos escravos da liberdade.Progressivamente fomo- nos libertando de tudo.Libertámo- nos dos tabus e dos limites, das dúvidas e das perturbações, das regras morais.Libertámo -nos, sobretudo da existência de Deus, com a certeza de sermos agora os únicos donos do nosso destino.
No entanto, a história do nosso tempo diz- nos que não é assim.Diz- nos que o céu vazio não foi ocupado pela grandeza do homem, mas sim pela loucura, pelo seu orgulho, pela sua sede de sangue.
Esta liberdade conquistada através da libertação de tudo o que era considerado um peso demonstra agoara toda a sua fraqueza a sua gratuidade.Não levou a lado nenhum, senão a um lugar aonde as pessoas perderam o respeito por si próprias, pelos outros seres humanos e por tudo aquilo que as rodeia.
O homem que vemos hoje é pobre e fundamentalmente perdido, um homem frágil que vive suspenso entre a incapacidade de enfrentar o presente e a ansiedade do futuro.
É um homem afectado por uma forma grave de infantilidade, em que a dimensão infantil não é a de plenitude, mas a sim a da vaidade e egoísmo. "
Susanna Tamaro in "regresso a casa"
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