9.4.06

Noite

Deixo atrás- o quê ? que sombras
vagas me perseguem ainda, como insectos que nenhuma treva
assusta ?Fujo! E as asas calcárias do louva-a-deus
colam-se-me às costas.Voo,agora,levando comigo
o fogo terrestre.Nenhum orizonte de ontem me poupará
o remorso de uma eternidade crepuscular: céus cinzentos
que entrevejo da esplanada branca do casino;o barco imóvel,
na enseada,apontando o nascente. E desço a escada
de pedra,com um lento rasto de caracol nocturno,
levando comigo a fúnebre notícia: " Ali,
onde um astro pousara o seu casco,deixando a luminosa
impressão de um fundo musical, os meus olhos beberam o último
brilho";e uma constelação de sais prendeu a sonâmbula
inspiração do vento.

Nuno Júdice "Obra Poética"

4 comments:

Amaral said...

Da poesia nascem os sonhos inacabados, incompreendidos, lançados em voos imaginários… Quando as sombras nos perseguem, somos mar revolto, solidão sombria, desnorte doentio… Um caminho sem luz desvia-nos, inevitavelmente, para realidades onde qualquer "treva" assusta e constrange... Todas as escadas estão viradas para cima. Todas são para subir. Lenta mas seguramente, qualquer caminho se vai percorrendo, ainda que a consciência nem sempre esteja perfeitamente "aberta"...

Anonymous said...

Boa noite * * *

No name said...

Ola linda venho deixar um beijinho e para além de desejar uma boa semana, desejar uma boa Páscoa.

Gostei do trecho do Judice.

Beijokas

Mac Adame said...

Um texto como a própria noite: misterioso.