22.4.05

preocupam-me as coisas do passado.
Escrevo como se o poema fosse uma realidade, ou dele nascessem as folhas da vida, com o verde esplêndido de uma súbita primavera.
Sobreponho ao mundo a linguagem; tiro palavras de dentro do que penso e do que faço, como se elas pudessem viver aí, peixes verbais no aquário do ser.É verdade que as palavras não nascem da terra, nem trazem consigo o peso da matéria; quando muito, descem ao nível dos sentimentos, bebem o mesmo sangue com que se faz viver as emoções, e servem de alimento a outros que as lêem como se nelas, estivesse toda a verdade do mundo.
Vejo-as cairem-me das mãos como areia; tento apanhar esses restos de tempo, de vida que se perdeu numa esquina de quem fomos; e eu vou atrás deles, entrando nesse charco de fundos movediços a que se dá o nome de memória.
Será isso a poesia??? É então que surges: o teu corpo, que se confunde com o das palvras que te descrevem, hesita numa das entradas do verso.Puxo-te para o átrio da estrofe; digo o teu nome com a voz baixa do medo; e apenas ouço o vento que empurra portas e janelas, sílabas e frases, por entre as imagens inúteis que me separam de ti.

Nuno Júdice in "Lira do líquen"

20.4.05

A última gota

Escondo no silêncio de um olhar
todos os meus sentimentos
Quero voltar ao ponto de partida
Quero voltar aonde tu estavas
Procurar um pouco de ti
Um pouco de mim
Um pouco do teu rasto
Para te trazer comigo
Para te levar comigo
Sorvo a gota que paira no ar
Bebo o cálice da aventurança
Sorvo o ar que respiras
E bebo a água que me dás

(este poema surgiu quando abri os posts...
ocorreu-me enquanto pensava em ti mais uma vez..
são poucas não é??? mas sou assim..)

11.4.05

Nocturno

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento.

Como um canto longínquo-triste e lento
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre a meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecomento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre do ideal, que me consome,
Tu só, génio da noite, e mais ninguém!

Antero de quental

7.4.05

Easier to run ( o meu bi parte I)

it´s easier to run
replacing this pain with something numb
it´s so much easier to go
than face all this pain here alone

something as been taken
from deep inside of me
a secret i´ve kept locked away
no one can ever see
wounds so deep they never show
they never go away
like moving pictures in my head
for years they´ve played

if i could change i would
take back the pain i would
retrace wrong move that i made i would
if i could
stand up and take the blame i would
if i could take all the same to the grave i would

sometimes i remeber
the darkness of my past
bringing back this memories
i wish i didn´t have
sometimes i think of letting go
and never looking back
and never moving forward so
there would never be a past

just washing it aside
all of the helplessness inside
pretending i don´t feel misplaced
is so much simpler than change

it´s easier to run
replacing this pain with something numb
it´s so much easier to go
than face all this pain here all alone

linkin park in "meteora"

4.4.05

Não sei..
Talvez me saibas dizer não achas????
Desculpa estive ausente.....
Tentei esquecer-te e esquecer tudo..

Infância

Uma história contada.
Um tempo longínquo que recordo vagamente..
Tempos de inocência , de ser um ser querido,amado e acarinhado.
Era acordar para a vida , para brincar..sem qualquer receio.
Esses tempos são agora histórias contadas.
Agora é só tristeza e desilusão
O meu ser e a minha menta estão pairados de escuridão...violência..ódio..
Há uma vontade enorme de acabar com tudo.
De não existir uma infância como história contada..acabar todo o presente odiado...

1.4.05

Mãos feridas na porta de um silêncio

Vida que às costas me levas
porque não dás um corpo às tuas trevas?

Porque não dás um som aquela voz
que quer rasgar o teu silêncio em nós?

Porque não dás à pálpebra que pede
aquele olhar que em ti se perde?

Porque não dás vestidos à nudez
que só tu vês?

Natália Correia