12.9.10
7.8.10
Procura da Poesia
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagens; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesias das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não perca tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetras surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-lo sós e mudos, em estado de dicionário,
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difpicil e se transformam em desprezo.
14.7.10
12.6.10
Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto, não apenas o meu corpo, mas também a minha alma. Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperava que nascesse o sol. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas...
Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas. Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo amor. Aos homens provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar! A uma criança, dar-lhe-ia asas, mas teria que aprender a voar sozinha. Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo o mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com a sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do seu pai, o tem agarrado para sempre. Aprendi que um homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer..."
(Gabriel Garcia Marquez)
4.4.10
Como Queiras, Amor...
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.
Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.
As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de malcontente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.
Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.
Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.
Como tu queiras, meu Amor, como tu queiras.
Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'
28.3.10
21.3.10
Madonna - Confessions Tour - Get Together (Super HD)
(quase me esquecia o quanto adoro esta música. good memories)
7.3.10
Para aprender aquilo que apenas acontece com
A distância de anos….
José Luis Peixoto " Gaveta de papéis!
- What I see with my eyes.
(Tenho vontade de voltar a pegar no meu lápis e caderno e voltar a escrever. Foi à tanto tempo atrás.
18.2.10
Entre conversas:
Escrevo isto para me convencer que não vale a pena contrariar que aumenta.
19.1.10
Eu já tinha visto nos teus olhos
Aquela ausência distraída
Aquela meia verdade
Aquela curva fugidia do dorso
Como se te nascessem asas
E tivesses de voar.
Há dias que
A nossa cama é um lugar para dormir
A nossa mesa um lugar para comer.
Antes não era assim.
…
Rosa Lobato Faria "Gaveta de baixo"
23.12.09
Natal, e não Dezembro
Friorentos,
Numa gruta, no bojo
De um navio,
Num presépio, num
Prédio, num presídio
No prédio que amanhã
For demolido…
Entremos, inseguros,
Mas entremos.
Entremos e depressa,
Em qualquer sítio,
Porque esta noite
Chama-se Dezembro,
Porque sofremos,
Porque temos frio.
Entremos, dois a dois:
Somos duzentos,
Duzentos mil, doze
Milhões de nada.
Procuremos o rastro de
Uma casa,
A cave, a gruta o sulco
De uma nave…
Entremos, despojados,
Mas entremos. De mãos dadas talvez
O fogo nasça,
Talvez seja Natal e não
Dezembro,
Talvez universal a
Consoada.
David Mourão – Ferreira
9.12.09
O pseo do corpo pode ser leve, forte ou pesado. Leve, quando nos esquecemos de pisar o chão; forte, quando vencemos a gravidade e a dificuldade; pesado, quando abandonamos tudo.
Ter um desejo que não se confessa.
Eis o momento de agarrar o chão com as mãos, levantá-lo como um lençol de luz e passar por debaixo.
Antigamente, tínhamos mais ar dentro de nós do que agora. Esse ar dava origem a que no espaço interior dos corpos pudesse haver mais vida. E havia. Havia coelhos que nasciam, cresciam dentro do corpo e faziam todos os homens saltar mais. Saltos muitos e pequenos, saltos em arco, grandes saltos e reviravoltas que levavam os corpos dos homens a saltar. Porque os coelhos dentro de si não paravam de saltar, os homens mantinham-se no ar com muita facilidade. Um dia, os coelhos quiseram fugir e saíram pelas pontas dos cabelos dos homens.
A partir daí, tudo se tornou mais complicado. Os homens, para saltar, tiveram de inventar a dança, ou então sonhar bastante para poderem por vezes dormir no ar.
Por vezes as mãos e os braços não servem para nada. Isto se houver dentes, olhos e sorrisos que os saibam substituir. Hoje em dia, existem no campo e na cidade princesas que vivem incógnitas. Elas, só com os seus dentes muito brancos, os seus olhos de qualquer cor e os seus lábios que rasgam sorrisos preciosos, conseguem por um instante impressionar muito: criam com as suas armas a sugestão de um instante feito de luz, cor e transparências. E assim, sem necessitar de usar os braços que não têm, aprisionam-nos para sempre. Este instante duradouro chama-se amor à primeira e à última vista.
Uma Carta Coreográfica
9.10.09
16.9.09
La Roux - Cover My Eyes
No wonder I'm scared
To look in your eyes
You've turned me away
So many times
You can take it away
At any given moment
It's hard to believe
While you're in this disguise
So would you hold me please~
I'm trying hard to breathe
I'm just surviving
So would you hold me please
I'm trying hard to breathe
Stop me from crying
When I see you walking with her
I have to cover my eyes
(I have to cover my eyes)
Every time you leave with her
Something inside me dies
(Something inside of me dies)
No wonder it hurts
To sit by your side[ La Roux Lyrics are found on www.songlyrics.com ]
(TurnED me away so many times)
There's a different song
I can play you tonight
(We don't have to sit here in silence)
We can break the pattern
We can change the colour
(It's just a little sacrifice)
You don't need to worry about the others
(It's all in your mind)
So would you hold me please
I'm trying hard to breathe
I'm just surviving
So would you hold me please
I'm trying hard to breathe
Stop me from crying
When I see you walking with her
I have to cover my eyes
(I have to cover my eyes)
Every time you leave with her
Something inside me dies
(Something inside of me dies) x3
2.9.09
Eu não sou uma montra, sabes? Tenho na garganta uma magnólia a florescer, nadam minúsculos peixes azuis por debaixo das minhas unhas, tenho o sexo transformado em ramos de açúcar. Não penses que ia ser fácil assim. De menina bonita posso facilmente transformar-me numa assassina. Quando quiseres o que não viste também vais querer o que chegaste a ver. Mas vai ser tarde demais. O meu corpo é finito, o meu espírito não. Vai ser tarde. Podes beijar-me, claro. Podes entrar em mim como um furacão. Podes lamber as minhas pálpebras fechadas. Mas eu não vou estar lá. Eu vou estar com o meu amor que está longe, tão longe que é aqui mesmo ao meu lado, dentro da minha garganta, por debaixo das minhas unhas, alimentando-se do meu sexo doce. Sim, aqui e agora, enquanto te distrais com a tua língua na minha boca. Gostas, não gostas? Ainda hás-de gostar mais. Peculiar condição.
1.7.09
26.6.09
Gossip-Heavy Cross
A música do ano( sem sombra de dúvida)