2.9.09


Não gostaste do que viste? É natural. Nem viste tudo o que podias ver, muito menos o que eu não quis que visses.
Eu não sou uma montra, sabes? Tenho na garganta uma magnólia a florescer, nadam minúsculos peixes azuis por debaixo das minhas unhas, tenho o sexo transformado em ramos de açúcar. Não penses que ia ser fácil assim. De menina bonita posso facilmente transformar-me numa assassina. Quando quiseres o que não viste também vais querer o que chegaste a ver. Mas vai ser tarde demais. O meu corpo é finito, o meu espírito não. Vai ser tarde. Podes beijar-me, claro. Podes entrar em mim como um furacão. Podes lamber as minhas pálpebras fechadas. Mas eu não vou estar lá. Eu vou estar com o meu amor que está longe, tão longe que é aqui mesmo ao meu lado, dentro da minha garganta, por debaixo das minhas unhas, alimentando-se do meu sexo doce. Sim, aqui e agora, enquanto te distrais com a tua língua na minha boca. Gostas, não gostas? Ainda hás-de gostar mais. Peculiar condição.
Pedro Paixão " O mundo é tudo o que acontece"

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