Friorentos,
Numa gruta, no bojo
De um navio,
Num presépio, num
Prédio, num presídio
No prédio que amanhã
For demolido…
Entremos, inseguros,
Mas entremos.
Entremos e depressa,
Em qualquer sítio,
Porque esta noite
Chama-se Dezembro,
Porque sofremos,
Porque temos frio.
Entremos, dois a dois:
Somos duzentos,
Duzentos mil, doze
Milhões de nada.
Procuremos o rastro de
Uma casa,
A cave, a gruta o sulco
De uma nave…
Entremos, despojados,
Mas entremos. De mãos dadas talvez
O fogo nasça,
Talvez seja Natal e não
Dezembro,
Talvez universal a
Consoada.
David Mourão – Ferreira