3.5.07

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos
(que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres
(eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a
(tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como um nódoa do passado.
Eu deixarei...tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
(porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos
(no espaço

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono
(desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,do vento,do céu,das aves,das estrelas
Serão a tua voz presente,a tua voz ausente,a tua voz serenizada.


Vinicius de Moraes " O poeta não tem fim"

1 comment:

Dra. Laura Alho said...

Passei para te deixar um beijinho *