Entre nós e as palavras há metal fundente
wntre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas,que esperam por nós
e outras,frágeis,que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens,palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras,surdamente,
as mãos e as paredes de elsinore
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras,os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mári Cesariny " Quinze poetas portugueses do séc. XX "
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1 comment:
Que nesta quadra, especial para muitos, a Luz da esperança e da compreensão faça de nós pessoas mais conscientes e amantes da Vida!
Feliz Natal!
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