Amigo, tu que choras uma angústia qualquer e falas de coisas mansas como o luar e paradas como as águas de um lago adormecido, acorda! Deixa de vez as margens do regato solitário onde te miras como se fosses a tua namorada. Abandona o jardim sem flores desse país inventado onde tu és o único habitante. Deixa os desejos sem rumo de barco ao deus-dará e esse ar de renúncia às coisas do mundo. Acorda,amigo, liberta-te dessa paz podre de milagre que existe apenas na tua imaginação. Abre os olhos e olha abre os braços e luta! Amigo, antes da morte vir nasce de vez para a vida. Manuel da Fonseca " Poemas completos" |
31.3.06
Antes que seja tarde
23.3.06
Pergunto-me quanta gente nesta cidade
Pergunto-me quanta gente nesta cidade
vive em apartamentos mobilados.
Altas horas da noite quando olho os outros prédios
juro que vejo um rosto em cada janela
que me olha também
e quando volto para dentro
pergunto-me quantos se sentam às suas escrivaninhas
e escrevem isto
Leonard Cohen " Filhos da neve"
vive em apartamentos mobilados.
Altas horas da noite quando olho os outros prédios
juro que vejo um rosto em cada janela
que me olha também
e quando volto para dentro
pergunto-me quantos se sentam às suas escrivaninhas
e escrevem isto
Leonard Cohen " Filhos da neve"
12.3.06
Descrição de um lugar
Sou um reflexo no vidro.Olho-me
fixamente, e o poema capta-me nesta atitude.
Pudesse eu conhecer-me como se conhece
o poema...
Deixo um retrato de mim,morto,
há um ano por esta altura.Que me aconteceu,
entretanto?De quem é este corpo
que me é estranho pálido habitante de um movimento
indeciso e aparente?Quem sinto quando me toco,
quem me dorme,quem me pensa,
quem me escreve? O meu rosto enconbre um pronome.vivo
uma sintaxe corrupta no patamar marítimo
do mito.Quem me impede o sentimento?Quem me abre
um caminho que não sigo,condeno o outro
de mim próprio?
No entanto,estou aqui.Entre mim e o poema,
opaco a ambos,sem nada para dizer.
Nuno Júdice "Obra poética"
fixamente, e o poema capta-me nesta atitude.
Pudesse eu conhecer-me como se conhece
o poema...
Deixo um retrato de mim,morto,
há um ano por esta altura.Que me aconteceu,
entretanto?De quem é este corpo
que me é estranho pálido habitante de um movimento
indeciso e aparente?Quem sinto quando me toco,
quem me dorme,quem me pensa,
quem me escreve? O meu rosto enconbre um pronome.vivo
uma sintaxe corrupta no patamar marítimo
do mito.Quem me impede o sentimento?Quem me abre
um caminho que não sigo,condeno o outro
de mim próprio?
No entanto,estou aqui.Entre mim e o poema,
opaco a ambos,sem nada para dizer.
Nuno Júdice "Obra poética"
3.3.06
Olho-te e a morte ronda perto.Jogo com o tempo com essa presença que me assusta e atrai.Há em ti qualquer coisa de irremediável,de profundo desespero.
" O meu amanhã é a sombra.Corpo corrompido..Tenho medo da minha morte...."-disseste
Ouve:
Era uma vez um Homem que se queria renovado.
Era uma vez um Homem que se aturdia com mu«inutos tão cheios que não tinham ecos de relógio.E o ar juvenil,a adoração da mulher a dizê-lo vivo e belo e capaz...O Homem bebeu o mais que pode da seiva jovem,para provar a distância da morte.Por momentos,o homem cansado foi efebo e fauno,o homem doente foi gazela veloz,cavalo alado,grito de esperança.
Enternecedor esse sorriso de homem frágil,à procura do renascer.
Homem fugindo da evidência.
Maria graciette Bessse " Mulher sentada no silêncio"
" O meu amanhã é a sombra.Corpo corrompido..Tenho medo da minha morte...."-disseste
Ouve:
Era uma vez um Homem que se queria renovado.
Era uma vez um Homem que se aturdia com mu«inutos tão cheios que não tinham ecos de relógio.E o ar juvenil,a adoração da mulher a dizê-lo vivo e belo e capaz...O Homem bebeu o mais que pode da seiva jovem,para provar a distância da morte.Por momentos,o homem cansado foi efebo e fauno,o homem doente foi gazela veloz,cavalo alado,grito de esperança.
Enternecedor esse sorriso de homem frágil,à procura do renascer.
Homem fugindo da evidência.
Maria graciette Bessse " Mulher sentada no silêncio"
Amei-te com as palavras
com o verde ramo das palavras
e a pomba assustada do coração.
Amei-te com os olhos
o espelho doido dos olhos
e a sede inextinguível da boca.
Amei-te com a pele
as pernas e os pés
e todos os gritos que trago
por debaixo da roupa.
Amei-te com as mãos
as mesmas com que te digo adeus.
Rosa Lobato Faria " As pequenas Palavras"
com o verde ramo das palavras
e a pomba assustada do coração.
Amei-te com os olhos
o espelho doido dos olhos
e a sede inextinguível da boca.
Amei-te com a pele
as pernas e os pés
e todos os gritos que trago
por debaixo da roupa.
Amei-te com as mãos
as mesmas com que te digo adeus.
Rosa Lobato Faria " As pequenas Palavras"
O silêncio não existe porque é o constante rumor de uma
inexistência.O que se ouve, para além do movimento da cidade,
é o monótono murmúrio do nada.Apenas sombra de nada,quem
nele procura um apelo ou uma resposta não os encontra ou
encontra um sinal negativo.Nada diz esse murmúrio nulo,que é
o eco inalterável do vazio do mundo,mas quem o ouve sente a
radicalidade da sua negação como se a cada momento nos
dissesse: Não há.
António Ramos Rosa "Relâmpago de nada"
inexistência.O que se ouve, para além do movimento da cidade,
é o monótono murmúrio do nada.Apenas sombra de nada,quem
nele procura um apelo ou uma resposta não os encontra ou
encontra um sinal negativo.Nada diz esse murmúrio nulo,que é
o eco inalterável do vazio do mundo,mas quem o ouve sente a
radicalidade da sua negação como se a cada momento nos
dissesse: Não há.
António Ramos Rosa "Relâmpago de nada"
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