27.10.05

Voz do Outono

Ouve tu,meu cansado coração;
O que te diz a voz da natureza:
-" Mais te valera,nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido,ainda infame,sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel devessa,
Do que embalar-te a Fada da beleza,
Como embalou,no berço da ilusão!

Mais valera à tua alma vizconária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hóstil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor,das mil,que
amaste)
Com ódio e raiva e dor...que ter sonhado
Os sonhos ideias que tu sonhaste"

Antero de Quental " Sonetos"

3 comments:

Daniel Aladiah said...

Querida Indie
Obrigado por nos recordares Antero, num dos seus mais belos sonetos.
Um beijo
Daniel

Amaral said...

Uma voz do Outono com gemidos e dor, mas Antero era grande a soltar a sua alma. Já vai sendo tempo de postares um da tua autoria…

ricardo said...

obrigado pelos sonetos... e pela voz do silêncio!

agora aproveito para te convidar para ires hoje ao teatro [das palavras]. há lá uma escada e uma data que gostava de partilhar contigo.

beijo