4.2.05

"Porque a justiça, no curso de uma vida, nasce só da compreensão de um percurso, da capacidade de evoluir do estado de servos obedientes para o estado de filhos, e logo de irmãos.
Aquilo que limita a visão de quem vive protegido pelo álibi da boa conduta é a impossibilidade de compreender a dualidade da alma humana que oscila entre a necessidade de fortes certezas e o desejo de subverter a ordem.
Sem esta compreensão a vida limita-se a um dever ser- obedientes, respeitadores, fiéis- sem a liberdade de aderir espontaneamente a um projecto de amor que não contém em si nenhuma forma de imposição.
A coisa mais grave é que o irmão que julga não percebeu que a pessoa a compreender- na sua dualidade por exprimir- e a perdoar- na sua vontade de justiça fiscal- é antes de mais ele próprio.
Mas para nos perdoarmos é preciso conhecermo- nos, reconhecermos a pobreza dos nossos sentimentos e o medo da nossa liberdade. Só assim, a partir da consciência dos nossos limites e da nossa fragilidade, pode começar o processo de reconciliação. Connosco e, logo, com os outros.
Só a partir daqui pode começar a construção de uma verdadeira justiça."

Susanna Tamaro in "Regresso a casa "

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