O espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ansioso espreito e sigo,
É um espectro mudo, grave, antigo
Que parece a conversas mal disposto...
Ante esse vulto, ascélico e composto
Mil vezes abro a boca... e nada digo
Só uma vez ousei interrogá-lo;
Quem és (lhe perguntei com grande abalo)
Fantasma a quem odeio e a quem amo?
-" Teus irmãos(respondeu) os humanos,
Chamam-me Deus há mais de mil anos...
Mas eu por mim não sei como me chamo..."
Antero De Quental
6.3.07
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