A noite vem poisando devagar
Sobre a Terra que inunda de amargura
E nem sequer a benção da lua
A quis tornar diurnamente pura...
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor,que é cheia de tortura...
E eu oiço a noite imensa soluçar!
E eu ouço soluçar a noite escura!
Porque és assim tão escura,assim tão triste?
É que,talvez ò noite,em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu sei de onde me vem...
Talvez de ti ,ó noite!...Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou,nem o que tenho.
Florbela Espanca " Sonetos"
5.1.07
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