Falar alto e sozinho.Ir pela rua,sozinho,falando com ninguém e com todos.Fazer parte do munod e estar só no mundo e chamar,em vão,pelo mundo.
Dizer-lhe as palavras precisas.Certas,esclarecedoras.
Únicas.Assim o homem que rompe a direito,concentrado e decisivo.~
-Não e não!
Não o quê?Não porquê? Será que os outros não sabem?
-ah!-reprova-se aquele velho.se eu voltasse atrás!...-e logo se encoraja-É sempre tempo para se fazer o que se deve!
Que foi que ele não fez?
-Fomos nós?-inquieta-se um outro que o ouviu-Fomos nós e ele que ainda o não fizemos?
Há também quem sorria dos que passam falando sozinhos.Maneira de escapar-se,de fugir aos problemas.
Sorrir e esquecer o que se ouve na rua é estar dormindo.
Não por muito tempo.um breve sono apenas.Os pesadelos do dia-a-dia crescem,sobem,afogam.
-Hão-de acabar por ouvir!-exclama aquele homem à beira do passeio.
Até os que vão calados falam.Pela forma de andar,pelos gestos,ouvem-se-lhes as palavras.E lá vão,entaipados,solitários na multidão.
António da Fonseca " Tempo de solidão"
15.10.06
Que diremos ainda?
Vê como de súbito o céu se fecha
sobre dunas e barcos,
e cada um de nós se volta e fixa
os olhos umno outro,
e como deles devagar escorre
a última luz sobre as areias.
Que diremos ainda?Serão palavras,
isto que aflora aos lábios?
Palavras,este rumor tão leve
que ouvimos o dia a desprender-se?
Palavras,ou luz ainda?
Palavras,não.Quem as sabia?
Foi apenas lembrança de outra luz.
Nem luz seria,apenas outro olhar.
Eugénio de Andrade " Quinze poetas portugueses do séc XX"
sobre dunas e barcos,
e cada um de nós se volta e fixa
os olhos umno outro,
e como deles devagar escorre
a última luz sobre as areias.
Que diremos ainda?Serão palavras,
isto que aflora aos lábios?
Palavras,este rumor tão leve
que ouvimos o dia a desprender-se?
Palavras,ou luz ainda?
Palavras,não.Quem as sabia?
Foi apenas lembrança de outra luz.
Nem luz seria,apenas outro olhar.
Eugénio de Andrade " Quinze poetas portugueses do séc XX"
1.10.06
Caos temporal
Num dos caminhos da noite
em que a noite era branca como o dia
encontrei o caminho para fora
da noite.
De dia,no caminho que me fizera
sair da noite
como se fosse dia encontrei um dia escuro
como a noite.
Entre a noite e o dia
todos os caminhos são
iguais.Só os caminhos que tornam o dia
negro como a noite e a noite
branca como o dia
fazem com que o viajante
se perca.
A não ser que quem ande de dia
como de noite,e de noite
como de dia,não queira saber de
caminhos.
Nuno Júdice "Teoria geral do sentimento"
em que a noite era branca como o dia
encontrei o caminho para fora
da noite.
De dia,no caminho que me fizera
sair da noite
como se fosse dia encontrei um dia escuro
como a noite.
Entre a noite e o dia
todos os caminhos são
iguais.Só os caminhos que tornam o dia
negro como a noite e a noite
branca como o dia
fazem com que o viajante
se perca.
A não ser que quem ande de dia
como de noite,e de noite
como de dia,não queira saber de
caminhos.
Nuno Júdice "Teoria geral do sentimento"
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