30.3.08


Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu and
oa limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny

27.3.08

Dia Mundial do Teatro

Existem várias hipóteses sobre as origens do teatro, mas aquela que mais questiona o meu espírito tem a forma de uma fábula:

Uma noite, em tempos imemoriais, um grupo de homens tinha-se reunido numa pedreira para se aquecer à volta de uma fogueira a contar histórias. Quando de repente, um deles teve a ideia de se levantar e usar a sua própria sombra para ilustrar a sua história. Socorrendo-se da luz das chamas, fez aparecer nas paredes da pedreira figuras maiores do que o natural. Os outros, deslumbrados, foram reconhecendo o forte e o fraco, o opressor e o oprimido, o deus e o mortal.

No nosso tempo, a luz dos projectores substitui a luz da fogueira original e a maquinaria de cena as paredes da pedreira. E com todo o respeito por certos puristas, esta fábula recorda-nos que a tecnologia está na verdadeira origem do teatro, que não deve ser considerada como uma ameaça, mas como um elemento congregador.

A sobrevivência da arte teatral depende da sua capacidade de reinventar-se, utilizando novas ferramentas e novas linguagens. Caso contrario, como poderia o teatro continuar a ser o testemunho dos grandes embates da sua época e promover a compreensão entre os povos, se ele mesmo não desse prova de abertura? Como poderia orgulhar-se de oferecer soluções para os problemas de intolerância, de exclusão e de racismo, se, na sua própria prática, se recusasse à mestiçagem e à integração?

Para representar o mundo com toda a sua complexidade, o artista deve propor formas e ideias novas e mostrar confiança na inteligência do espectador capaz de reconhecer, ele próprio, a silhueta da humanidade nesse jogo perpétuo de luz e sombra.


É verdade que, por brincar demais com o fogo, o homem corre o risco de se queimar, mas pode também ter a possibilidade de deslumbrar e de iluminar.



ROBERT LEPAGE
QUEBEC

26.3.08

Amnesty International | Your signature is more powerful than

Vale mesmo a pena pensar nisto

Basta de indiferença

16.3.08

O melhor será não voltarmos a ver-nos. O tempo prega-nos constantes partidas e chegadas. Tu chegaste quando julguei que mais ninguém chegaria.
Com o meu pequeno coração no centro do meu corpo líquido fui perdendo qualquer esperança.
Uma a uma.
Na vida que vai sucedendo aos dias.
Na desilusão que tudo vai apagando e assim o merece.
Mesmo na vitória há um pouco de fim, porque toda a vitória é efémera e não volta.
Vi-te a sair. Disse o teu nome.
Não te viraste.Talvez não fosses tu.

Pedro Paixão " Ladrão de Fogo"

11.3.08


Tudo o que sagrado existe, tudo o que de profano me abraça, é apenas amor sem dor,dor sem amor.Hipnotizado pelos olhos da escuridão, quero procurar a penumbra e conhecer o sonho da vida. A minha alma leva-me para demasiado longe,apodreço dentro do meu próprio caixão, o céu puro arde e une-se ao inferno. Um estranho circuito nasce e cobre a Humanidade.


Daniel Sampaio "Lições do Abismo"