31.12.05

Uma sombra outra sombra a noite desce

uma sombra a noite desce
sobre telhados que não vejo
entra nas casas onde a esperam sem saber
da solidão gamosa que as trespassa e me trespassa
a mim que não a espero e não desejo

e a sinto sem a ver descer entre altos ramos
ouvindo um fio de musgo e susto que em seguida
me faz olhar o céu

céu de incerteza beleza mutilada
na mesma claridade que floresce um só instante mais
enquanto morre

céu de sereno sono com clarões baços e abandono e medo
e a vagarosa trémula, neblina que escorre e se desprende
o só calor real e só possível do que é imenso e impossível
no ansioso terror de nunca mais

Iluminam-se as ruas
enquanto sobre nós e em nós a noite desce cresce
e nos envolve e nos liberta e prende

Mas aqui onde estamos
já não estamos
que sem cartão de identidade e de mãos nuas
desafiando a noite e a confusão tentacular dos ramos
onde julgam que estamos
sem princípio e sem fim anónimos voamos

Mário Dionísio "Memória dum pintor desconhecido"

28.12.05

Não podia deixar passar isto em branco....

o meu amigo tostas fez este comentário que recebi no e-mail a prepósito do meu último post abaixo..

Tostas has sent you a link to a weblog:

a simplicidade de um poema bem escrito, ultrapassa toda a complexidade forçada daqueles que querem tornar incompreensivel aquilo que se passa À nossa volta e no interior de cada um. Fantastico texto para reflectir sobre o nosso quotidiano...

Blog: voz do silencio
Post: É assim...
Link: http://vozdosilencio.blogspot.com/2005/12/assim.html

obrigada amigo..nunka te esquecerei..apesar de convivermos a pouko tempo sei k poxo kontar ctg e tu tb podes contar comigo..bj grande

22.12.05

É assim...

Todos os dias...
Conto os dias que passaram,
Sem te ver,
Sem te sentir...
Todos os dias...
faço um esforço para te esquecer
e esquecer tudo.
Todos os dias...
desejo-te,
imagino-te,
amo-te!
Todos os dias..
São dias e nunca mais acabam!

indie

10.12.05

Não me fales do eterno...
Eu sou mortal e estou só de passagem.
O meu tempo de permanência aqui é muito longo e tenho de partir.
Fala-me de ti , da vida ,de nós. Aproveita enquanto cá estou.
Conta-me uma história de amor , um poema, uma tragédia, um romance.
Sabes às vezes penso que por ser mortal sinto que nada me pertence.Tão agarrada e tudo e quando for o dia da minha partida tenho de deixar tudo. Nâo quero carregar o peso da inutilidade.

Indie
" Ele a relembra agora no retrato que dela fizera depois. Retrato fulminante, exacto, mas de uma exactidão só conforme com o sonho dele, tenaz, ou com o que ela própria de si perdera, ou decerto com a verdade última e sagrada de uma Elsa sem tempo. Corpo erguido em desafio à morte, sim ;mas o olhar rendido de humildade, as mãos dadas à frente, revelam nela uma amargura profunda e resignada, descobriam nela uma inocência original, a presença escura de um estigma divino.
Alguma coisa de grave e de misterioso a transcendia assim, a unia a que forças elementares da terra, da vida ? "

Vergílio Ferreira " Cântico Final"